segunda-feira, 9 de junho de 2014

Sobre relacionamentos amorosos e fraternos


Estamos completando um mês de “casados”. Um mês desde aquela festa deliciosa em que nossos amigos e parentes mais próximos nos prestigiaram e ajudaram a criar uma experiência memorável na comemoração dos nossos dez anos de união de almas!

Nesses momentos sempre nos sentimos tão íntimos e tão à vontade com todos, que nos perguntamos inevitavelmente: É tão bom quando nos encontramos, então por que nos vemos tão pouco? E quando a rotina volta, passadas as comemorações, novamente vamos retornando aos nossos afazeres e recolocando as distâncias. O estilo de vida contemporâneo contribui muito com isso, mas o carinho e a memória afável daquele momento permanecem, isso é fato!!!

No decorrer dos preparativos, confirmamos e descobrimos amigos e companheiros de jornada até onde não esperávamos. Vivenciamos ligações intensas em relações das quais nem esperaríamos tanto e isso foi gratificante ao extremo. A cada dia, sentimos cada vez mais o quanto nosso coração se engrandece e se fortalece no amor que compartilhamos entre nós dois e com nossos amigos, que já podem ser considerados irmãos de alma!

Da mesma forma, alguns mal-entendidos ininteligíveis (o pleonasmo foi proposital!) desestabilizam nossa segurança sobre a reciprocidade de algumas relações... afinal,  assim como para comemorar, é aos amigos  que recorremos nos momentos de necessidade, dúvida, insegurança e, até mesmo, para nos distrairmos dos problemas. Não fazemos isso com um cliente ou parceiro comercial, com um fornecedor ou conhecido qualquer! Fazemos isso com os amigos porque confiamos na empatia deles, ainda que eles também ocupem algum daqueles papeis. Confiamos na sua tolerância, na sua paciência e aceitamos automaticamente que eles entendem nossas intenções da melhor forma possível, em vez de procurarem motivos para se afastar.
Conviver é um eterno jogo de entendimentos entre as partes, e isso pode ser bastante complicado. Se aparece alguma inevitável fissura na relação, é desejável que a parte que se sentiu ferida busque na própria relação o curativo para a mazela e contenha o dano. Isso significa dar uma chance de se reestabelecer a harmonia colaborativa que toda boa amizade e todo casamento duradouro devem ter.

De tanto nos depararmos com a volatilidade de algumas relações que prezamos e as quais nos entregamos sem reservas, sempre nos perguntamos: como podemos passar da lista de amigos para a de desprezíveis, tratáveis com indiferença e frieza tão rapidamente e por tão pouco? Porque nos sentimos tentados a sermos tolerantes e a relevar as irritações bobas  do dia a dia em prol da história de uma amizade, se quando nós precisamos receber essa benesse, a recíproca nem sempre é verdadeira? Por que várias vezes nós procuramos, ligamos, marcamos e até nos locomovemos em ocasiões diversas e quando nos afastamos por qualquer motivo que seja, ficamos no vácuo e no silêncio? E o pior de tudo é que começamos a pensar “poxa, eu estava tentando ajudar/agradar; o que será que fiz errado?” e nem mesmo temos a oportunidade de ouvir uma resposta. Sim, porque uma resposta é uma oportunidade de diálogo e esclarecimento, de compartilhamento de pontos de vista diferentes, o que permite a anulação do mal estar, o fortalecimento da confiança, a intensificação dos sentimentos, o aprofundamento da relação. Sem diálogo, que significa sentir-se seguro para comunicar o que sente e pensa, nossas vidas ficam superficiais, volúveis, sem graça, sem sentido... não é de se admirar que os problemas psicológicos/psiquiátricos sejam considerados os males do século.

Nesse panorama, começamos anos  questionar nossa própria capacidade de demonstrar amizade; questionamos nosso modelo de relacionamento; questionamos nosso valor enquanto amigos e até como pessoas. É claro que essa percepção foi sendo construída ao longo dos anos, não começou outro dia. No meio da angústia de tentar entender esses fenômenos, amplificados nesse período de extrema proximidade e intensidade que acontece durante a preparação de um casamento, nos deparamos com uma citação que já lemos inúmeras vezes, mas nesse momento específico fez um sentido enorme: “Era uma pessoa igual a cem mil outras pessoas. Mas, eu fiz dela um amigo, agora ela é única no mundo”.

De repente, essa frase nos libertou! Não é o outro que é um bom amigo, sou eu que faço dele um amigo. E nos demos conta que, efetivamente, considerando as pequenas variações necessárias e inevitáveis, possuímos uma razoável estabilidade de valores, expressões, interações e comportamentos, os quais nos permitem resumir nossa identidade para qualquer um. O que nos torna especiais aos olhos de alguns  é o sentimento que eles nos despertam.

Nossos melhores e mais confiáveis amigos não são aqueles que agradam o tempo todo ou estão sempre disponíveis ou representam algum tipo de vantagem. São aqueles que nos inspiram os sentimentos mais nobres. Aqueles que inspiram confiança extraem comportamentos e palavras confiáveis.  Aqueles que elevam nossa autoestima recebem demonstrações de apoio e valorização. Da mesma forma, aqueles que nos tratam com desconfiança inspiram comportamentos defensivos; os que nos tratam com agressividade inspiram reações de ataque; os que agem com desdém ou indiferença recebem o mesmo; os que agem como vítimas encontram um algoz a altura. Esses últimos exemplos não nos consideram amigos desejáveis... com razão!

Obviamente, o contrário também se aplica: com que tipo de ação ou reação estamos perturbando essa ou aquela relação? Sempre vale a pena avaliar se não estamos favorecendo o mal estar por desatenção. Mas, como as relações são circulares, depois que o problema começou não faz a menor diferença saber quem foi o ponto de partida, o dano está feito e precisa ser encarado.Humildade, paciência, cabeça fria e foco no afeto podem sempre reverter esse quadro. O último empecilho é o livre arbítrio. Podemos até insistir, mas o outro pode decidir continuar onde e como está, defendendo sua trincheira. É um direito dele.

Felizmente, conhecemos muitas pessoas que nos inspiram os mais nobres sentimentos: amor próprio, vontade de participar, confiança, segurança, lealdade, tolerância, paciência, etc. Eles nos tornaram bons amigos sendo simplesmente assim! Para aquelas que possam ter vivido experiências não tão positivas ao longo da vida, sempre nos esforçamos para ser a diferença, para fazer por elas o que outros fizeram por nós em tantas ocasiões e, com isso, nos tornaram melhores amigos. Nem sempre funciona; não somos perfeitos e nem todos estão no momento ou em condições de encontrar sua cura. Nosso desejo para eles é que as feridas que possamos ter causado nessa tentativa possam cicatrizar adequadamente. No nosso casamento também é assim: feridas nunca são negligenciadas, pois estamos sempre dispostos a fazer os curativos e nos livrarmos das armas. Por entender a importância de praticar verdadeiramente o respeito,  desejamos que, aqueles que queiram seguir adiante para o distante, sigam com boas lembranças de nós e, no máximo, cicatrizes. Nunca sequelas!

Gratidão a todos os que nos transformaram em amigos! Estamos ao alcance de vocês pra tudo que precisarem e para o que não precisarem também!!!!

Abraços e até a próxima!




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